RS – Como se tornou treinador de futebol ?
ATP – Sou técnico de futebol sob indicação do Sagrada Esperança. No final da época de 2006, ainda era futebolista, comecei a ser preparado para me tornar treinador. Fui convidado para ir ao Brasil para tirar o meu primeiro curso. Voltei lá para nova formação e percebi, realmente, que tinha de estar um pouco mais concentrado. Foi, assim, que vi que estava a nascer algo de muito sério no futuro, porque o clube estava a pensar em mim para ser técnico.
RS – Que características suas originaram esta aposta do clube ?
ATP – A minha forma de ver o jogo, de o encarar, mesmo enquanto jogador. Fui sempre exigente, nunca olhei para as coisas de forma minimizada. Actuei durante 20 anos como futebolista sem contrato, mas sempre encarei o meu trabalho com muita responsabilidade. Fui muito interventivo nos momentos menos bons e nos momentos áureos. Como jogador, ganhei o campeonato e a Taça de Angola. Talvez a interacção com os colegas e dirigentes tenha influenciado a forma como me olharam na altura.
RS – Quais os momentos que mais recorda como atleta ?
ATP – Recordo o momento mais difícil: a descida de divisão. Nesse ano, tive um acidente de helicóptero e foi uma época em que pensei desistir do futebol. Psicologicamente, foi terrível. Os atletas ficaram divididos, porque as dificuldades eram enormes. Ficaram 17 jogadores, uma vez que os outros abandonaram o clube, e disse que o Sagrada Esperança ia terminar. Apareceram, depois, jogadores como Russo, Kiss, Filipe e Rosário, entre outros. Com estes nomes sonantes, conseguimos, de imediato, subir de divisão. Entre aqueles que sofreram o acidente de helicóptero e que continuam no Sagrada Esperança, estou eu, Frank, meu adjunto, e o seccionista.
RS – Estas conquistas recentes, depois de tudo o que viveu, dão-lhe mais força para trabalhar ?
ATP – Acredito que sim e não deixam de trazer uma grande energia. Como referi, joguei durante 20 anos sem contrato e tive sempre força para persistir e continuar sempre com o pouco que ostento. Temos de saber esperar, de aceitar as diferenças e aquilo que nos é condicionado, pensando que podemos conseguir mais e melhor.
Foto: Sagrada Esperança